8.2.14

8.2.14

Ciclos



Não adianta insistir, algumas coisas possuem um prazo de validade na nossa vida. Pessoas também. Não raro, ignoramos certos sinais, claros e evidentes, que tentam nos mostrar o encerramento de um ciclo. Não enxergamos porque o coração não deixa. Ou não quer. Não nos ensinaram como dizer Adeus, ainda mais no pleno do sentimento. Um dia a gente descobre que amar não é o suficiente.

Não existe felicidade diária, ou um relacionamento sem divergências. Uma relação pode, inclusive, terminar sem brigas. O que indica o fim é exatamente uma ausência de reação que o outro possa lhe causar. Pro bem e pro mal. Se o abraço dele não lhe provoca mais aquele arrepio na nuca, é hora de repensar a paixão. Se o descuido dela em relação ao beijo, não mais lhe chatear, é provável que você não precise mais dele. A harmonia até existe, um entra pela casa e já vai lavando a louça, enquanto o outro deixa o lixo ao sair pela porta. Ao deitar, o casal promove um balé de movimentos, cruzando a cama. Um estende o lençol e o outro ajeita os travesseiros. Enquanto um escova os dentes, o outro busca a água e liga a TV. Por fim, os dois se colocam na mesma posição na cama. Seja lendo um livro, ou mexendo no celular, os dois trocam raras palavras.

O amor precisa romper a linearidade da rotina, quebrar os paradigmas da convivência. Pode haver harmonia no caos, desde que haja uma união consentida, sorrisos em meio à bagunça do lar. Um casal sabe que ainda tem mais a descobrir, quando consegue rir das próprias bobagens; quando ao despertar, o mesmo café de todos os dias tem um toque de carinho; quando o bom dia é feito pela vontade de ver o parceiro abrindo os olhos e enxergando você como a primeira imagem do dia. Nada automático, simplesmente por viver a dois, sem motivo ou razão. Apenas querer conviver com a alegria dos detalhes. Trocar olhares como um oxigênio da alma, como um suspiro feliz.

Muitas vezes amamos mais o que sentimos, do que quem pensamos amar. É bom estar apaixonado. É até bonito. Nos permite uma troca de experiências, uma parceria que nos leva a conhecer outras pessoas, outra realidade. Mesmo que haja um sentimento puro e verdadeiro, é importante reconhecer quando aquela jornada chegou ao fim, já ensinou a lição que vocês precisavam. E acredite, sempre há o que aprender.

Não é fácil perceber o fim de um ciclo, ainda mais imersos em um envolvimento emocional. Mas os sinais não mentem. Existe uma linha imaginária de evolução pessoal em que o casal só pode cruzar de duas formas: juntos ou separados. O principal alerta ocorre quando você percebe que poderia atravessar a ponte, mas o seu parceiro não. Uma jornada a dois precisa da vontade de ambos, na mesma vibração. Chega um momento em que você tem que decidir, e, mais do que a sua relação, é a sua vida que está em jogo.

Nada é definitivo. Especialmente as mulheres tem pressa de viver e estão sempre um passo à frente dos homens. Às vezes é preciso um tempo para que ela possa voar, descobrir o que precisa e não está proibido um retorno para nos buscar. Um ciclo pode encerrar e recomeçar muitas vezes e a frequência das tentativas podem nos mostrar o quanto estamos insistindo em algo que já terminou, ou apenas renovando nosso passaporte para mais uma viagem do amor.

A gente sempre sabe quando o ciclo encerra. E essa não é uma escolha nossa. Insistir ou não em algo que já terminou, sim. O fim de um ciclo não é, necessariamente, um fim. Pode ser um recomeço. Depende de você.

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Sobre o autor: Chico Garcia. Jornalista e escritor, mas acima de tudo um observador da vida e das relações humanas. "Sempre fui o consultor sentimental da galera. Hoje, essas histórias viraram textos. Me divirto e aprendo a cada dia como o amor pode ser complexo."

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